Ser ou não ser a outra? Eis a questão.
Carolina Sousa Martins
Textos em crônica ou poesia com impressões de uma mulher - Franka Mente - sobre a vida. A dela e as dos outros.
Hoje o mundo não é mais quadrado. Um dia foi. Mas, ainda hoje, se diz, pelos “quatro cantos do mundo”, que amor de mãe é incondicional. Talvez não seja. Ele tece uma dívida que espera (e é justo que espere) motivos para se orgulhar; uma dívida que espera (e é justo que espere), no fim da vida, cuidados, retribuição, qualidade de vida... Mas não seria a vida sozinha a própria qualidade? Não seria amor incondicional aquele cuja recompensa é o próprio amar? Não seria amor incondicional aquele focado na motivação, e não no resultado? E, por outro lado, não seria a família aquela microsociedade que infere os motivos a partir dos resultados? Não seriam pai, mãe, irmão e tia aqueles seres que mais se amam e que menos se conhecem?
Carolina Sousa Martins
Vou envelhecer sem endurecer,
Seguindo adiante cada vez mais amante.
Eu sinto uma paixão mirabolante!
Mal posso esperar por estar em teus braços
Depois de dias a adivinhar teus traços.
Do teu coração, ouço as badaladas
Que batem à minha porta, fadadas
A se misturar à sinfonia das minhas veias
Sob a maestria do milagre de rendar vidas em teias.
Vidas inteiras...
E há vida fora de nós? Não importa!
E a vida fora de nós não importa.
Ela já corre para lhe abrir a porta.
Meu mundo quer parar e esperar e só girar para esperar.
Para te esperar...
É como se eu sempre tivesse esperado.
Sem nunca antes ter esperado.
Esperança e intemperança de dádiva da vida
Que sabe que no melhor da jornada
Estão sempre as, sem hora marcada, encomendas.
Que nos surpreenda o show sem agenda!
Sim, senhora marcada!
Impossível sentir isso e prosseguir ateu.
Isso faz parte da agenda de Deus:
Compromisso com a vida -
Essa ávida, grávida e sabida subida.
Sinto alterações. Em mim, halteres.
Sinto a bênção da deusa Ceres.
Sinto que Deus gosta mais das mulheres...
Carolina Sousa Martins
Recém casados: manual da justiça (ou da justiceira?)
Uma boa idéia seria que no banheiro de casal houvesse , para ele, um mictório, e, para ela, um vaso sanitário com a tábua baixada E COLADA no vaso para nunca sair dessa posição.
Justo também seria uma geladeira ao contrário. Justo não, justíssimo. Uma geladeira que fosse 20% geladeira. Com 80% de congelador (pras lasanhas, pizzas e tudo o mais que sai direto do congelador pro microondas e, depois, vai parar na lava-louças com aquele prato todo branco, comprado depois de expirar o prazo de troca dos dezoito conjuntos de pratos de porcelana chinesa, pintados a mão, que o casal ganhou no casamento). É que pra ir à lava-louças não pode ser pintado. Só que o marido, que é PhD, e a esposa, que fez mestrado na Sorbonne, só descobrem isso depois da quinta semana de “lavação de louça suja”. No fim das contas, o casal guarda os dezoito conjuntos de prato no mesmo “apertamento” em que guarda o enxoval comprado em outra cidade e manchado pelas inúmeras estréias da máquina de lavar roupas. E, na cozinha, só os seis pratos brancos. Para sempre. Até quando tem visita (se a visita for íntima).
E por falar em visita íntima, o casal ganhou um presente de casamento, no mínimo, interessante. De alguém do trabalho. Tinha que ser de alguém do trabalho. Um livro. Chamado “Sexo no cativeiro”. Engraçado que todos já os tinham alertado para “não deixar cair na rotina”. Mas nunca de um jeito tão direto. Eu só sugeriria o subtítulo: Manual do reFém-casado.
E já que falei em visita íntima e refém (casado), vou adentrar o assunto da “superpopulação Parcerária”. É... Ela tinha seis guarda-roupas lotados mais uma arara* com roupas espalhadas quando era solteira. Depois do casamento querem que ela tenha apenas três portas de guarda-roupas (ou, quando o marido é mais generoso, deixa quatro portas para ela e fica com apenas duas para si). Aí, sim, ela vai “ficar uma arara”, vai se lembrar de sua antiga amiga arara, vai doar algumas roupas e, com o que sobrou, tentar fazer caber o dobro das coisas em metade do espaço. Acontece que depois que se esquece a Física aprendida na escola, ela só é relembrada no dia da mudança das roupas do casal. Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço.
A não ser na lua-de-mel. Provavelmente o único momento em que o casal terá tempo de ler os manuais. Ela, o dele. Ele, o dela. É o tempo de “amor tecer”.
Carolina Sousa Martins
2010
* Glossário masculino:
. Arara: armação utilizadas pelas lojas para pendurar as roupas, em cabides.
Sim, os homens são interesseiros.
Aqui no Brasil, nós mulheres temos fama de interesseiras. Uma vez uma amiga minha (que hoje já deve ser psicóloga) falou que isso estava no inconsciente coletivo - que as mulheres eram criadas para, desde pequenas, conseguirem o que queriam dos homens pela sedução (diante do pai, pelo choro; diante do irmão, pela argumentação; e assim por diante).
Aliás, sobre o assunto, acho que era Marcel Mauss quem dizia que todos somos interesseiros e que toda e qualquer relação seria baseada numa troca de interesses. Um estaria interessado em dinheiro, outro em abrigo, outro em sossego, outro em amor...
Só que quando o interesse de alguém é em ser amado, ele não é chamado de "interesseiro". Só é interesseiro quem tem interesse financeiro! Eureka! Interesseiro é a mistura de interesse com financeiro!
Contudo, nada disso é do meu interesse. Minha intenção é convencê-lo de que os homens também agem por interesse. Não me cabe dizer se os interesses deles são mais ou menos morais do que o interesse por dinheiro. Mas me cabe dizer que os interesses masculinos não abarcam mulheres casadas! rs E por quê? Qual a única resposta óbvia? AS SOLTEIRAS TÊM MAIS PARA DAR OFERECER! rs
Se uma mulher disser a um homem que é solteira e pedir-lhe carona e, uma semana depois, uma amiga daquela mulher disser, a esse mesmo homem, que é casada e pedir-lhe carona, as reações desse fulano serão to-tal-men-te opostas! Pode fazer o teste.
Vou tentar explicar. Eu fiz uma experiência de imersão antropológica recente: casei-me. Pois bem. Foi assim que eu descobri que os cavalheiros (ao menos nos ambientes que eu frequento) oferecem um tratamento diferenciado para as solteiras. Um tratamento privilegiado... Solteiras, comemorem-se!!!
Quanto a mim, fato é que terminei um curso semestral um mês antes de me casar e comecei outro curso assim que me casei. Reparem que não houve tempo hábil para que eu me tornasse mais feia, mais inteligente, mais fechada ou qualquer outro “mais” capaz de intimidar os homens. Nada a ponto de provocar uma diferença de reação social tão visível. E risível.
Era uma outra turma. Com as mesmas características da primeira (mesmos nível social, média de idade e interesses de modo geral), mas era uma outra turma. A segunda era diferente: depois de casada, nenhum homem fazia a menor questão de me emprestar, para copiar, a aula que eu perdesse (se nenhuma mulher tivesse ido à aula que faltei, a Carol casada tinha que implorar, enquanto a Carol solteira já recebia por e-mail sem nem pedir!); nenhum homem me ajudava mais a instalar o notebook na tomada (não que isso fizesse falta, mas eu já estava “bem acostumada”); e, pra finalizar, Carol casada mor-ria de medo de o carro ficar "no prego"... rs
Essas e “otras cositas más” me levaram a me observar. Queria saber o que havia de errado. Até que percebi que o tratamento que me estava sendo dispensado, era o tratamento... para as colegas CASADAS! Isso mesmo. “A ficha caiu” no dia em que uma das solteiras entrou em sala, depois de faltar quase o primeiro mês todo de aulas, e fizeram a maior festa com a sua chegada (enquanto eu, se faltasse um dia, já tinha meu nome liminarmente ESQUECIDO). É que eu agora era... casada. Não estava escrito na testa, mas sim no anelar da mão esquerda. É que aqui em Brasília, uma aliança, se não tiver o sobrenome “Política”, é respeitada.
Não é verdade que os homens prefiram as casadas porque elas não lhes demandem compromisso. Claro que sempre tem aquele que gosta de mulher. Ponto. Qualquer mulher. Mas eu digo que os maridos podem ficar sossegados porque, em regra, os membros dessa misteriosa sociedade (a masculina) gostam de investimento a curto prazo.
Então, maridos, vossas esposas recém-casadas terão que descobrir o que podem oferecer em troca para constituir uma relação saudável com novos homens desinteressados no título de “amigo”. A casada vai descobrir um novo tipo de sedução interação. E aqui, sim, pode entrar o financeiro. Eu, por exemplo, já descobri qual o valor exato da gorjeta pros meninos do supermercado me ajudarem a levar as compras no carro fe-li-zes (e largarem todos os outros clientes na mão quando eu apareço...).
E essa convicção toda sobre a qual discorri tantas teorias sem embasamento evoca diversas variáveis. Entre elas, uma positiva e outra (a meu ver) negativa:
1) os homens de Brasília acreditam na fidelidade feminina (que bom!); e
2) não existe amizade entre homem e mulher???
A seguir cenas dos próximos capítulos...
Carolina Sousa Martins (2010)
* Prometo confirmar sobre Marcel Mauss.