segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Carta sem remetente


As cartas de amor (“ridículas”) foram oficialmente enterradas sob o primeiro prédio erguido por Bill Gates.

E talvez só aqueles que já estiveram longe de casa saibam bem apreciar uma carta de carinho. Ou, hoje, um e-mail de carinho. De alguém que lembrou. De alguém que sempre festeja a nossa chegada. E com espontaneidade. De alguém que nos quer bem, com sinceridade. Onde for, quando for e como for.

Talvez as cartas tenham mais charme... Tinham de ser escritas uma a uma. Deixavam mais vestígios sobre o estado do remetente e mais marcas a testemunhar o caminho percorrido pelos carteiros.

Mas o desvelo com que escrevo se compara à saudade que compelia nossos avós a disporem de tempo. Tempo para escrever muitas e longas cartas, com LETRA BONITA e em PAPEL PERFUMADO. Tempo para selá-las com ÚMIDOS BEIJOS (e eu digo literalmente, e sem a umidade do gozo da poesia: úmidos eram os beijos com SABOR DE COLA que deixavam, ainda, traços de DNA sobre a carta...). Tempo para ir aos Correios, preencher o envelope, lacrá-lo, enviá-lo e esperar a longuíssima espera da resposta. Era também o tempo de conhecer o carteiro. Tempo de conversar com o funcionário dos Correios. Era o tempo que fazia sentido... Todos os sentidos. Só faltava a voz do remetente. Mas isso era providenciado pela maior nação do mundo: a imaginação. E o e-mail só apela à visão...

Mas eu queria que ao abrir ESSE e-mail, você abrisse também um sorriso. Sem letra bonita ou papel perfumado, “essa carta” vai com desejos de mãe, de vó, de alguém bem querido na família. QUERIDO porque QUER muito. Muito bem aos outros.

Ah, a família... Esses amigos que a natureza impõe. E os amigos? A família que escolhemos! Acho a natureza mais sábia do que nós. Mas, quando a própria natureza já nos considera adultos para escolhermos nossas famílias, temos a procuração da Sabedoria. Significa que já cessou o tempo dos porquês. E assim sendo, que importa saber se nossas maiores bênçãos têm raiz naquelas escolhas pseudo-conscientes ou se nascem do acaso – se é que ele existe?

Já crescemos em maturidade para não termos vergonha de beijar mamãe na porta da escola. Já temos altura para voltarmos a ser crianças e reencontrarmos a poesia da vida.

E falar em poesia... só pode lembrar Vinícius! Sobre os amigos... “porque não os procuro com assiduidade, não posso dizer-lhes o quanto gosto deles. Eles não acreditariam.”

Não acreditam. E como bom “tradutor de gente”, o poeta me reescreve. Sinto, verdadeiramente, essa mesma paixão “derramante”. Por tantos amigos que (nem sabem que) foram feitos família e por tantos familiares (que também não se sabem), meus grandes e amados amigos.

E hoje sei que muitos acham o que escrevo carregado de emoção, exagerado, ou “fora do chão” (quando não, ficção). Mas hoje, também, já não ligo, não. Que eu seja apenas fora de padrão!

Pois, repito, disso também se faz a vida: de imaginação! E eu, verdadeiramente, vivo toda essa desorientação! E isso faz de mim a privilegiada protagonista da minha própria vida. Privilegiada, sim, por sentir tanto assim. Por acreditar tanto assim. Por PRECISAR TANTO ASSIM. DE GENTE.

Quantas vidas abandonam as nossas ou nós abandonamos... E eu me ressinto. Quantas experiências, perdas, enganos, dramas, suspenses e comédias... Mesmo com tantos enredos, a história do meu cinema não tem registros de cadeiras vazias. É que a entrada é franca! E esse teatro sempre há de ser cheio de gente.

E essa gente que me cerca me orgulha. Gente que ajuda a atenuar raivas e medos. Gente que liga, que lembra, mesmo morando do outro lado. Do mundo. Gente que manda e-mail porque nunca tem tempo pra nada. Gente que gosta não só DA gente, mas DE gente. E gente da TROPA DE ELITE, que sempre acha tempo pra nós, e pra quem nós, também, sempre CRIAMOS tempo.

Sei que não deixo claro durante todo o ano o quanto o meu coração é disponível. Mas é um bom momento para lembrar: contem comigo SEMPRE! Eu devo muito a vocês. E é só pra dizer isso que hoje escrevo esse e-mail. É que...

As cartas de amor (“ridículas”) foram oficialmente enterradas sob o primeiro prédio erguido por Bill Gates. Só restaram as cartas ao Papai Noel...
Carolina Sousa Martins
(2008)

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Quando se vê, já é 2009!

(a imagem acima foi retirada do blog bp3.blogger.com )

É bonito olhar pra trás e avistar desejos realizados, amizades mantidas, promessas cumpridas...

Mas se em 2008 "nem tudo foram flores"...

Não deixe que o passado seja um peso. Transforme-o numa lição.

Perdoe a si mesmo e aos outros. Acredite que existem mal-entendidos. Aprenda, de vez, a se colocar no lugar dos outros. Confie nas pessoas! A maioria delas é belíssima...

Vá, peça perdão, "porque, quem não pede perdão, não é nunca perdoado".

Não tema o futuro, construa-o tijolo por tijolo. Se houve "castelos de areia" que "o vento levou", edifique os próximos sonhos em concreto, pois assim eles serão sonhos concretos...

Se houve algo que você perdeu, não se apegue à sua perda. Abra mão dela por um “futuro/presente” muito melhor!

E aprenda a felicidade que está no amar...

Amar os amigos, em quem se pode confiar - aqueles que vibram com nosso sucesso e sofrem com nossos tropeços; aqueles que nos atendem quando ligamos de madrugada, aos prantos, e dizem "Não, eu não ‘tava dormindo"; aqueles que nos lêem o pensamento pelos olhos; aqueles que dão conselho e depois dão colo (quando não seguimos o conselho); aqueles que nos defendem antes que se peça qualquer coisa; aqueles que sabem emprestar a mão, o ouvido, o ombro, o colo e o coração.

Amar aquele "pentelho", do convívio diário, que, mesmo quando o nega, se mostra tão frágil e inocente ao querer ser igual a você. Amar explicitamente aquele em quem você se espelha, por sabê-lo tão grande que só resta segui-lo.

Amar aquele amor de verdade que lhe é oferecido de forma leve e sincera, aquele amor dos que nunca sofreram ou dos que souberam curar suas feridas, aquele amor que é entrega, e não tem vergonha de sê-lo, que é escândalo, que não tem ciúmes ou egoísmos, mas que também não deixa de ter medo de perder.

Amar aquele que não contentou-se em ensinar você a andar, mas permitiu que você “voasse” sozinho, ainda que isso o fizesse sofrer, com o “ninho vazio”.

Amar os melhores pais do mundo!

Amar aquele irmão que a sorte fez amigo.

Amar o dia que amanhece e os momentos do caminho diário.

Amar ao Deus que segura a sua mão e o faz forte justamente quando você mais precisa.

Procure (e encontre!) seu Deus, seus amigos, sua família, seu amor. Esses são os presentes que encomendei a Ele pra você nesse próximo ano.

Deus é a luz que está em mim e em você, por mais que a gente não queira saber.

Não se perca dos seus amigos. Não é fácil encontrá-los.

Não se distancie da sua família. Nesses "dias em que chegam dois salários em casa, porém aumentam os divórcios", ela ainda é o início de tudo e a base da força da sociedade.

Não desista do amor, por mais que ele já o tenha ferido.

Levante a cabeça, respire fundo, sacuda a poeira da alma e siga adiante. Você é do tamanho dessa sua alma e os desafios são menores que você.
Conte pro espelho que você é demais!

"Peça arrego", quando precisar. Deixe-se ajudar! Quem disse que você tem que ser auto-suficiente?

Assuma, com pureza, essa paixão que já salta aos olhos. E deixe, quem sabe, um novo amor chegar... Ou se transformar...

Ponha a armadura da insensatez, de vez em quando. Agarre a mão daquele amigo "desmantelado" e saia correndo, deixando que ele o ajude a fugir dos “certinhos”. E não dê explicações sobre isso, ainda que sejam requisitadas...

Não economize sorrisos, abraços ou beijos. Isso não é economia, é desperdício!
Demonstrações sinceras de carinho não fogem à regra do "efeito bumerangue da vida" e geram uma energia positiva que volta pra você invariavelmente.

Não presuma que o outro sabe-se amado. Vá correndo dizer isso a ele.

Tenha tempo pra você e pras pessoas. “Então é Natal! E o que você fez?”

E se tempo é uma questão de paixão, apaixone-se! Ou então a falta de tempo pode vir a ser sentida como falta das pessoas que ficaram pra trás, falta do que deveria ter sido construído na sua própria humanidade, na opção do "ser" em detrimento do "ter".

Seja feliz hoje! Pode ser que amanhã não dê tempo de corrigir sua infelicidade!

Não desista de acreditar - isso é o mais certo! Espere! Persevere!

E jamais se sinta só. Há sempre alguém por perto.

Lembre-se que a paz é fácil demais, "rapaz"!

Faça, do seu Natal, um alegríssimo Natal, e, do seu 2009, um felicíssimo 2009!

Com carinho,

Carolina Sousa Martins

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O preço da minha paz


Não há fórmula pro amor que dá certo. Nem pro alcance da paz. Eu quero, tu queres, ele quer, nós queremos, vós quereis, eles querem. Mas não me siga. Eu também estou perdida.

A busca da fórmula deve ter a haver com nossa missão na Terra.

Existe missão?

“Missão” é o que tenho que mandar rezar pra rechear de generosidade a minha gratidão.

Se cada pessoa é única, cada casal também é. Cada um tem q descobrir sozinho sua receita de sucesso.

Mas eu posso afirmar que constam no cardápio de Itu (= menu de possibilidades do mundo), banquetes, como o de Platão. E, se mesmo em meio a essa busca desenfreada de cada um, nas mais diversas direções, já somos presenteados com fartura dionisíaca, imagine se tivéssemos a bula da vida?

Além do mais, desse cardápio de Itu, o melhor prato, pra mim, é “meumaríder” e o melhor prato, pra ela, é “maridela”. Tem de todas as cores e tamanhos! A bula da vida prejudicaria as escolhas.

O que eu falo é de intuição. Dessa antropologia de revista feminina. Da minha tese de doutorado baseada nesse (ir?)restrito universo de pesquisa.

E por falar em doutorado, o dragão não acreditou que eu fazia mestrado! Como diria uma colega: “there is a brain behind my beauty”! (hehehe...)

Mas o dragão me ensinou muitas coisas. E uma delas foi o valor da minha paz.

Mil reais por mês.

Acha muito?

Não é.

Porque quando a paz assume o volante, ela abre as janelas. Dispensa o ar condicionado. Economiza.

E quando se abre as janelas... Ah, aí as coisas acontecem!

O vento desfaz o penteado e bate em popa. Economizando combustível e fazendo valer ainda mais a pena a mensalidade da paz.

Quando abre as janelas, você se lembra de que o pôr do sol não tem cor de película de carro.

Quando abre as janelas, você ouve a chuva te aplaudir e sente o cheiro do hálito leve do ar lá de fora.

Por isso, escolho o caminho mais fácil. O mais leve. Com o vento em popa. Em poupança.

Acontece que a pior atitude que alguém pode cometer contra a auto-estima é vender a alma.

Por mais que você negue. A sua negação não é capaz de contradizer o que É.

E o que é na essência do ser humano faz, dele próprio, responsável.

Teve convulsão na Copa de 98, levou gato por lebre em 2008.

Não, eles não são felizes. Eles roubam aqui e vão pra Europa. Mas se punem. Há uma "consciência inconsciente" de que merecem castigo. E se castigam. Ou são castigados.

Mas isso não nos preocupa. Somos grandes investidores.

Os mil reais já voltaram... Multiplicados.

Carolina Sousa Martins
(2008)

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Cadê a boca, a panacéia do mundo?

(a imagem acima foi retirada do site www.photobucket.com )

Agora vão instalar chips nos automóveis. A reportagem foi sucinta. Mas, pelo que entendi, vão rastrear os carros! Eu não faço segredo do quanto sou contra a tecnologia abusiva. Abusiva? Sim, abusiva, intrusiva, opressiva, nociva!!!

Como se já não bastasse o celular - essa coleira eletrônica - agora querem criar um “Big Brother” universal. Mas eu não me inscrevi! Não entrei nessa fila! Não quero ser famosa. Por isso, não atendo. Meu celular é para EU ligar, dá licença!?

Não quero o 3G. Quero "matar minha vó" no trabalho e ir pro motel.

Não quero chip. Quero ser seqüestrada pra cachoeira sem ninguém saber! Nem se intrometer. De intrometida, hoje, não mais a tia, mas a tecnologia.

Vc tem bina no celular. Alguém te liga e vc não escuta. Só vê o número depois. Não faz idéia de quem seja. O q vc faz com isso? Eu não faço nada.

Vc desliga o celular. Eles inventam o “te ligou”.

Vc desliga a secretária eletrônica. Eles cobram taxa extra.

Vc tem um computador pra reduzir o tempo do q faz. O q vc faz com isso? Eu trabalho mais.

Vc pode se comunicar por celular, e-mail, messenger, mensagem no celular, torpedo, fax... Vc tem dito "eu te amo"? Eu disse “DITO”, falado, com a voz, com a boca!!!

“As máquinas fazem mais em menos tempo”! O q vc faz com isso? Eu tenho tido mais máquinas.

Fala-se menos. Escreve-se mais. Não conheço a tua voz. Não sei qual a entonação.

Talvez quando a Filosofia não mais responder às perguntas, se resolva estudar a boca. Talvez quando findo o inventário dos herdeiros do futuro, se resolva estudar a boca. Boca... De Boccaccio a Bocage, esse bocado de gente que me deixa de boca aberta, passando também pelos “meia boca”, ou os de voz rouca, que não alcança meus míopes ouvidos, talvez se resolva estudar a boca. Não a comunicação ou a linguagem, mas a boca, essa panacéia do mundo. Beijo vem da boca. Remédio é pela boca. Segredo vem da boca. Comida é pela boca. Denúncia vem da boca. Cachaça é pela boca. Verdade vem da boca. Sorriso é pela boca. Promessa vem da boca. Mordida é pela boca. Desabafo vem da boca. E bafo também vem. Venda a boca? Melhor vendar os olhos. E sentir com o paladar. Para dar no que vai dar. Talvez quando a Filosofia não mais responder às perguntas, se resolva estudar a boca. Não a comunicação ou a linguagem, mas a boca, essa panacéia do mundo.

Carolina Sousa Martins

Bobeou, virou moda


Virou moda mulher beijar boca de mulher. Virou moda ser homossexual. E bissexual. E ainda não entendi se também é moda ser bi ocasional. Explico: sabe aquelas artistas que beijam outras mulheres e aparecem em todas as revistas, mas em seguida estão de namorado novo? E aquelas menininhas que resolvem realizar a “fantasia” do namorado indo pra cama com ele e com mais uma (que, aliás, não me venham com chorumelas, senhores, também é moda, e não fantasia)?

Também virou moda ser intelectual. Ah, mas pra ser intelectual tem mais algumas regras. Intelectual não gosta de conforto. Intelectual não gosta de Carnaval. Gosta de sandália da feira e de bolsa hippie. Intelectual não vai a Paris. Quando pode, vende o carro e vai pra Índia. E intelectual de hoje em dia tem que idolatrar Habermas. Quem acha ele um maluco, é porque não tem Q.I. à altura (no caso, eu). Deve ser porque eu sou loira. Deve ser porque eu gosto de cor-de-rosa. Ou será que é porque eu quero ganhar mais dinheiro?

Funk do morro também virou moda. As patricinhas adoram! E quanto mais a música banalizar o sexo, melhor. Quanto mais explícito, melhor. E eu que gostava tanto das entrelinhas...

Acho que a moda é chocar. Pega meu sutiã rosa-choque, então? ‘Tá na primeira gaveta.

Carolina Sousa Martins

Acaratapa


(a imagem acima foi retirada do blog http://tantodemim.blogs.sapo.pt )


Será que dou a minha cara a tapa?
Será que dou, minha cara? Tapa?
Será que dou, a minha cara, tapa?
Será que dou? A minha cara, tapa.

Cadê meu seguro? Não me sinto segura. Da. SOS amiga. Ela me manda dar a cara a tapa, dar a outra face, DAR... Desligo o telefone convencida a “jogar tudo pro alto e aterrisar” (afinal, “mulher q não dá, voa”). Estava pronta pra agarrar a chance que eu estava tendo de viver uma experiência tórrida.

No dia seguinte, foi ela quem ligou. Cedo. Exatamente trinta segundos após eu apertar o “on” do celular. Ainda estava sob o efeito de Byron, quando o telefone tocou.

Oi! Fala. Quê? Esquecer o q vc falou? Atropelada? Quem dá a cara a tapa é atropelada?

Ressaca moral. Depois de tudo o que aconteceu, ela ainda saiu com ele.

Resultados matematicamente “pré-visíveis”. A não gosta de C + C gosta de A. Variáveis: se A é a mulher, A e C não saem juntos; se A é o homem, A e C saem. Se A e C são homo, eu não sei. Supondo q A e C saem = A come + SOME + C (é! vC, mesmo!) se sente péssima.

Faz uma coisa A-GO-RA: pega o teu celular. Vai no nome dele. Agora clica em “editar”. Digita: “se atender, é burra”. Melhor: “se atender, quero ser gorda”. Agora repete comigo: “Deus, por favor ouça essa prece. Se eu o atender mais uma vez, quero engordar dez quilos!” Anda. Repete.

Vai. Pode continuar a história (apesar de eu já saber o final).

Chega! Não quero mais nem ouvir...
Agora vc vai fazer o que eu mandar! Vai imaginar ele bem grande, bem grande... gigante! Crescendo, crescendo, crescendo até ficar ridículo. Anda, colabora! Como assim não ‘tá adiantando? Ouvi dizer que funcionava... Pensei até em fazer isso com a balança...
Hum... Então... Que tal imaginar bem pequenininho, então? TUDO pequenininho! Vai. Faz isso. Fez?

Vamo lá. Repete o nome dele comigo cem vezes, que vai perder o significado! Agora se lembra daquele topete ridículo. Isso. Gostei dessa.
Agora imagina os amigos dele rindo da tua cara. Ah, não? Vc REALMENTE ACHA q ele não vai contar? Ele vai “tirar tanta onda”, q os amigos dele vão ter dó de vc (mas mesmo assim vão espalhar pra cidade inteira!) Ô, amiga, não chora... Calma... Respira fundo... Não, eles não vão rir de vc naum, ‘viu? Era brincadeira minha, ‘tá?

Já sei uma coisa que vai funcionar: pára no supermercado. Compra um toblerone. Dá um cheque, ué! Então paga com cartão. Compra essa porcaria logo, q eu pago, caramba! Dá aí o número da tua conta q eu transfiro o dinheiro do chocolate.

Já começo a pensar (sem dizer a ela) q não devia ter dado a MINHA cara a tapa ontem. O tapa deve estar a caminho... E o cara também. A caminho do sumiço...

Antes de desligar o telefone, ainda a ouço dizer um melódico e meigo “Boom diia!”aos colegas de trabalho. Como se tivesse tido uma ótima noite de sono... A segunda-feira vai começar. E ela é uma profissional eficiente.

Carolina Sousa Martins

Vira-lata


Você me apareceu de forma tão brusca
E pôs fim à minha busca.
Chegou sem tocar-me o corpo, com calma,
Para me arrepiar a alma.

E sem corpo, na alma, sou leve
E permito mais cedo me enleve.
E sem culpa, meu corpo é suave,
Prelúdio de um tom menos grave.

Ficou sem se pôr por cima ou por baixo
Pra que eu quisesse estar ao seu lado.
Uniu-se a mim como um pacho
De cura de amores passados.

Resolveu me salvar dos meus traumas,
Emprestando-me o corpo e a alma.
Pelo que sou hoje, me deseja
E não pelo que almeja que eu seja.

Cedeu-me além de seu colo,
Brindou minha inquietude,
Expôs seu amor e seu dolo,
Riu da minha juventude.

Teu beijo, nem sei se mereço
Mas por ele, padeço, pereço...
Cura de um medo de amar evidente...
Resposta às minhas preces, de repente...

Não mais, de rua, fiel vira-lata
A ser-te agora apenas fiel,
Hoje é dia de se saber emergente,
Hoje teu ombro se faz urgente.

Carolina Sousa Martins

Eu de novo

Meu coração finalmente está à margem, posto de lado.
Está sedado.
Está cansado.
E não é que foi amarrado?
Em camisa de força.
À força.
Chega de aventura.
Chega de tortura.
Tem comédia pra alugar?
Basta de filmes que fazem chorar!
Preso pra não “se amarrar”,
Não sai mais pra passear.
Não sei nem trapacear.
Não vou “buscar laranja no mar”.
Aliás, nem vou mais buscar.
Vou me afagar no cinza
Da melhor quarta-feira.
A da fantasia rasgada, exaurida.
Vou te afogar no “sim”
Da mulher solteira.
E água arde na ferida.
Mas hei de achar a saída.
Sem pranto.
Ou nem tanto.
Afinal sou mulher.
Mulher com mulher?
Que tal?
Aí falta o "principau".
Prefiro meu prínsapo “do mal”.

Carolina Sousa Martins
(2005)

sábado, 12 de julho de 2008

NÃO É DO VERÍSSIMO!


AINDA QUE MATERNIDADE SEJA INQUESTIONÁVEL, QUERO ASSUMIR A MA-TER-NI-DA-DE DO TEXTO ABAIXO. A CRÔNICA "MULHER OU ANJO?" TEM VIAJADO INTERNET AFORA (ÀS VEZES SOB O TÍTULO "ESPIÃS DE DEUS") COM A AUTORIA ATRIBUÍDA A LUIZ FERNANDO VERÍSSIMO. FICO DEVERAS LISONJEADA, MAS CONFESSO QUE "O FILHO" É MEU!


ESCREVI ESSE TEXTO COMO SE ESTIVESSE NA PELE DE UM HOMEM, SIM. MAS FOI ESCRITO POR "MOI". PROVA DE QUE EU NÃO VIVO TUDO O QUE ESCREVO. JÁ ESCREVI TAMBÉM SOBRE PAIXÃO POR MULHERES E SOBRE SER "A OUTRA". E FELIZMENTE (OU NÃO) EU NUNCA FUI APAIXONADA POR UMA MULHER (COM EXCEÇÃO DA MINHA MÃE! HEHE...), BEM COMO, TAMBÉM NUNCA FUI "A OUTRA" (QUE EU SAIBA). RS

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Casamento

(a imagem acima foi retirada do site http://www.ouroneheart.com )

Que falte em ti o que em mim excede
E que minhas faltas não te exauram
No compromisso diário
De enfim levantar âncoras e fazer um ao outro feliz.
Que da ânsia por esse encontro que se faz núpcia
E da ânsia por essas núpcias geradas do encontro
Nos sobrem e sobrevenham grandes doses de humanidade
E overdoses de divindade
Para devolver ao universo o que nos foi dado de graça:
A alegria do amado,
A alegria de vê-lo, todos os dias, ao lado,
A alegria de tê-lo encontrado.
E que nossos amigos-álibis
Do tórrido átimo do primeiro olhar
Possam ser parte dessa aventura
Não só nos votos de boa ventura,
Mas nos desafios que a vida assegura.
Sejam, meus amigos, engenheiros que só edificam
E solidificam.
Sejam, meus amigos, advogados de um único cliente:
O amor.Por favor.
Pois quero da vida uma paixão que não se acostume
E que não se presume.
Quero até, de leve, ciúme.
Ciúmes “ex tunc” de quem quer a parte mais bela da história
Da minha, da tua, da nossa história


Carolina Sousa Martins

Amar


Amar é uma aventura assinada por Deus
A ventura de ter seu nome em meu sobrenome
A candura de ter os olhos seus nos meus
É a intimidade mais tímida e destemida
A violação mais violada
Em verso, prosa e violão
Da privacidade da castidade do meu Alcorão
É a gravidez de vê-lo, de desvelo.
A gravidade de tê-lo e retê-lo e revê-lo
A gestação de almas que sossegaram sem se cegar
E a medida desse bem
É o que amamos quando nos amamos.
São dois que são um que são cem.
Que amam mais, que amam melhor.
Que juntos fazem maior
O universo ao redor.
Ao contrário do que se diz,
Amar é nosso projeto de ser feliz.
Ao contrário do que hoje se teme:
Deixar o lar, o “solteirar”,
O NOSSO lar é o nosso leme.
E vivendo um amor com rugas, mas sem rusgas
Quero viver os dias tristes, desenhando sorrisos para alegrá-lo
E os dias frios, colorindo o sol para aquecê-lo
Pois nos dias vazios, me divide com a poesia
E seu silêncio me faz companhia
Sem me deixar tirar da lembrança
Que aliança rima sempre com criança.

Carolina Sousa Martins


Música: Gustavo Cysne

Deixa eu ser feliz e cuida do teu nariz!


De quanta gargalhada de madrugada, quanta porrada inesperada, quanta “volta à estaca zero”, quanto compromisso, quanto “zignau”, quanto cafuné, quanta viagem, quanto abraço, quanto trabalho, quanto estudo, quanto “sim” e quanto “não”, quanto beijo na boca, quanto churrasco, quanta certeza você precisa pra SER?

Eu preciso muito. “Amo muito tudo isso”. Acho que eu preciso mais. Odeio não viver por inteiro. Romance sem ponto final (pior: com reticências...), sair na metade do filme, comer chocolate DIET, sorvete sem cobertura, sono interrompido pelo despertador... (aliás, não gosto de nada que tenha como sobrenome “interrompido” ou “precoce”... hehe...) “Sinto muito” é o que eu sinto. Não no sentido de pena. Mas no SENTIDO DO SENTIR! Qual o sentido do sentir? Sentido Asa Norte? Sul? Sudoeste? Não faz sentido. O sentido é pegar esse avião e decolar. O sentido é o alto. O Altíssimo.

Uma vez eu falei que o amor era um milagre. Fui contestada. Disseram que milagre era “coisa impossível” e amor era “vida real”. Não me convenceu. Acredito em milagres. O amor é milagre. E eu não sou santa. Vou recorrer a quem é. Santo Antônio ou São José? São Judas, o das causas impossíveis! Ou Nossa Senhora? (que era mulher! deve saber o que é t.p.m, neura ou “coisa de mulher”)

Minha irmã falou que ele era “sengra”. Mas isso pra mim não é problema. Dá um banho de loja. Resolve. Vou esnobar o camarada só porque ele vai de pijama pra minha casa ou usa suspensório vermelho na faculdade? Logo eu que falo que a gente ‘tá desistindo dos príncipes pra ficar com os sapos? Quem não tem gato, casa com cão... O que não dá é pra ficar com “cara de tacho” porque outra já deu um "upgrade" nele, ‘né? O problema pra mim era outro “sem”. Ele era muito sem... sato! Eu gosto de gente com... panheira! Muita “panheira”!

“Se eu tivesse mais alma pra dar, eu daria.” Quero amasso de madrugada e pescoço roxo no dia seguinte quero os óculos da mulher da novela quero passar no concurso quero emagrecer quero reunião da mulherada quero o brinco da revista quero querer ir pra academia quero conhecer Viena quero sorvete do Chez Michou quero passear no Parque quero voltar a vê-lo quero fazer compras quero ir com a patotinha quero mais dinheiro quero companhia pro cinema quero a catuaba do copo do Will quero minha mãe pra sempre quero convite pra jantar não quero pagar a conta... E não é da sua conta!

Carolina Sousa Martins

Sem poesia

(a imagem acima foi retirada do site www.photobucket.com )

Hoje estou sem poesia. Acordei com meu sagrado mau-humor matinal, regado pela sensação recente de que estou perdendo o trem da história. Acordei com uma melancolia “a la” Florbela Espanca ou “a la” Emily Dickinson, que disse que se tivesse que ser famosa, seria. Disse algo assim. Algo que me passou um “quê” de comodismo, de quem não vai à luta. Teve que morrer pra fazer sucesso. Parece também que ela era apaixonada por um cara, mas nunca se casou. É assim que estou me sentindo. Como um retardatário numa corrida, sendo ultrapassado a cada minuto.


Hoje eu não queria olhar pra esses pro-cessos-pro-blemas. Eu podia ter um trabalho como entregador de flores. Eu sei. Entregador de flores não costuma ser rico e ter aquela sonhada vida de glamour. Mas que deve ser uma terapia entregar flores, isso deve. Um dia eu ainda pago um entregador pra me deixar fazer o trabalho dele! Só por um dia... Afinal “sempre fica um pouco de perfume nas mãos de quem entrega flores”. Ser palhaço também deve ser legal. Tirando o circo, que eu detesto. Mas pra isso tem que ter dom! E acho que até pra ser palhaço tem que ter coragem!


Acredito que se escreva pra não explodir. Mas hoje eu queria é exorcizar essa covardia que parece ter se instalado em mim. Outro dia um cara me perguntou o que um homem tinha que fazer pra ficar a menos de 1 cm de distância da minha boca. Essa pergunta me intrigou, pois eu não soube responder. Fiquei tentando achar uma característica comum aos homens por quem já tinha me apaixonado. Hoje, um outro, sem saber, me deu a resposta: ímpeto! Na verdade, ele falou que eu gostava dele porque ele era impetuoso e eu não. Humpf! Que metido! (será que ele ‘tá certo?) Só sei que ímpeto é uma coisa que eu não tenho. Posso ser impulsiva. Mas não impetuosa. Sou segura pra muita coisa. Mas não pro campo amoroso. Sou medrosa, sim. Só faço o que todo mundo já fez antes. Acho o meu rostinho muito lindo pra ficar quebrando a cara. Mas acho que as mulheres gostam disso "neles"... Auto-confiança...


Antes que eu me esqueça, por falar em do que as mulheres gostam, aproveito pra dizer que acho que nossas reuniões de terça à noite deveriam se estender a um almoço na sexta. Acho que todos os gatinhos da cidade saem pra almoçar na sexta. Qualquer lugar... Carpe Diem, Faisão Dourado, Fridays... Basta ser 6a. feira que eles estão lá! A gente pode dividir as atas. Terça- feira, na casa de alguém, a gente fala sobre dieta, moda, perfumes, sexo, homem, homem e homem. E no almoço de sexta, num restaurante, a pauta seria: política, cinema, esportes, carros... Que tal? ‘Tá, tudo bem. A gente pode fazer umas concessões, caso tenhamos ido à boate na véspera...



Carolina Sousa Martins

Entre coceiras e cócegas

Descobri que o amor não dói. Coça. O amor é involuntário. A coceira também. Você conhece remédio para dor e para cólica. Você sabe uma receita para gripe e uma dica para insônia. Mas você conhece algum remédio para curar amor? E para coceira? Não conhece. Mas conhece uma substância que alivia. Momentaneamente. Ambos. O álcool!

Mas se o amor coça... Será ele humano ou biológico? Para mim, é humano. Quando acharam que eu tinha crescido e me obrigaram a optar, escolhi Humanas. Exata só a certeza de amar. Se é exato, não consegue nem ser romântico... Já inventaram algo menos romântico do que a matemática? Imagine uma declaração de amor tão precisa quanto: “são 5:56h da manhã, o sol está 63% para fora da montanha e isso lembra você”. Agora: “já é manhã, o sol SE ESCONDE atrás das montanhas e sua beleza me lembra você...” Reticências...

Sempre gostei disso. Divagar... Devagar... Alguém gosta de receber bilhetinhos em mesas de bar tão diretos quanto “quando é que eu vou conseguir te levar ao motel?” e cheios de erros de português? Se não tiver o que me dizer, “diga reticências”. E eu gamo. Pela gama de opções que você dá à minha imaginação. Sou presa de camaleão. Presa pega pela língua. Portuguesa. E acho que não sou a única. Também saí na capa da Veja: mulheres da nova geração. Também gosto dos homens inteligentes. E como. É uma celebração. CerebrAÇÃO.

Por hoje é só tudo isso. Tenha um dia feliz. Que faça cócegas. Tenha um trabalho feliz. Que faça cócegas. Tenha uma família feliz. Que faça cócegas. Tenha um amigo feliz. Que faça cócegas. Tenha um amor feliz. Que faça cócegas. Cócegas não. Cosquinha. É mais lúdico.

Carolina Sousa Martins




P.S. Fui procurar "cosquinha" no dicionário e não achei. Mas achei "cosquento" (= quem sente cócegas facilmente) e qual não foi a minha surpresa quando descobri que cócegas tem dois outros significados: desejo / tentação e impaciência / sofreguidão! Assim sendo que vocês tenham um dia cosquento no(s) bom/bons sentido(s)!

O "finde"


Saída pra jantar. O restaurante escolhido foi um daqueles de estilo australiano, com amendoim, literalmente, “a balde”. Ele foi ao banheiro. E eu não parei de comer amendoim. Não que eu quisesse comer, mas estava ao alcance das mãos... Lógica masculina. Tinha amendoim até no banco. “O que não mata, engorda”. Mais uma lógica masculina. Se feminina, seria “o que não mata, emagrece”.

Enquanto tateava uma espinha no queixo, eu descubro... UM PÊLO! Meu Deus! Um pêlo enorme no meio do meu queixo! Só pode ser herança da maldição da pílula! E agora? Como vou arrancar isso “na unha”?! Na unha? Impossível. Ainda mais sem ele perceber. Se estivesse com a minha bolsa de sempre, tinha pinça, espelho, corretivo, caneta, lixo... mas nessa “microbolsa”, que custou mil reais, só cabe carteira de motorista e celular! (sem a capinha!)

- Eu vou ao banheiro rapidinho, ‘tá? (que doce de menina...)

- Putaquipariu, alguém merece um pêlo desse tamanho no meio do queixo? (que doce de menina...) Imagina se ele resolve beijar meu queixo? É quase como tirar a blusa do cara e descobrir... seios! E essa p**** não sai! Ai! Será q essa mulher aí não tem uma pinça na bolsa? Se bem q eu odeio quando me pedem o batom emprestado na rua! Por analogia, “o manual da Mayrink” deve proibir expressamente o que estava pensando em fazer... Já até imagino... “Jamais peça pinça emprestado a estranhas”... Vou pedir é uma faca pro garçom! Mas se aparece alguém no banheiro vai achar q estou querendo me suicidar! E vai que o gatinho me vê entrando no banheiro com uma faca... Arrr! Saiu! Uf... Finalmente posso voltar. Ele vai perguntar por que demorei. Vou dizer q o banheiro ‘tava cheio.

- O q houve?

- Nada... Demorei? Banheiro feminino, ‘né? Demora.

- Seu queixo ‘tá vermelho.

- Jura? ‘Tava coçando mesmo...

Graças a Deus chega a comida pra mudarmos de assunto. Passei fome a semana inteira pra hoje.

Vinho bom. Música boa... Ah, não! Ele JÁÁÁ parou de comer?! Putaquipariu ao quadrado! ”N.M.” um cara q coma menos do q a gente! Agora vou ter q parar de comer também porque A SOCIEDADE FALOU q mulher come menos do q homem! Arrrrrrr! Aliás, ele JÁÁÁ mandou parar de servir! É o “pim da ficada”! O fim da picada... O fim da ficada, ‘né? Ele q se atreva a querer dividir essa conta!

Tudo bem. Quando chegar em casa, eu esquento aquela lasanha q ‘tá na geladeira... E “ai” dele se quiser fazer outra coisa hoje entre o restaurante e a minha casa. Quem mandou me deixar com fome? Agora vai direto me deixar em casa pra ficar esperto... E pensar que comprei até lingerie nova! Não, eu não ‘tava mal intencionada. Não posso sair de calcinha nova? ‘Tá. Admito. Eu fiz as contas e já tem um mês de namoro, ué! É... não chega a ser namoro, namoro, namoro assumido, mas... é como se fosse! E eu o conheço há anos! Tudo bem. Já sei. Na verdade, estudei com ele no maternal. O que importa é que, nas minhas contas, esticando um pouquinho aqui e arredondando ali... eu já podia liberar, ‘tá? Além disso, eu ‘tô mais pra “a perigo” do que pra “perigosa”... E a CASSI não cobre a minha carência! Já nem sei se vale mais a pena ir pra casa comer e dormir ou... sair! com meu Don... Don Juan? Talvez. Mas este lado ele não mostrou. Ainda. Melhor aproveitar enquanto ele é um “Don Quijote”... Ainda. Ah, esses espanhóis... ‘Tá, tudo bem... Talvez seja um “Don Quijuan”... Mas eu já cogito em adiar a lasanha e começo a imaginar a última noite de amor de Don Juan... Ou a primeira de “Don Quijote”... Vou propor um duelo. E pagar pra ver quem vence... Torcendo por “Don Quijote”, mas apostando em Don Juan...

(E eu como. Sempre. Dividida. Coisas de uma geminiana...)

Carolina Sousa Martins

Ter Minar

(a figura acima foi retirada do site www.julio.ws )

Ter seu brilho que me cruza
De seus olhos, seus sorrisos
Ao meu frio, calafrio,
Meu pio, arrepio.

Ter seu enlevo que enleia
De fascínio e sedução
Seu magnetismo que nos une:
Dois opostos em questão.

Minar o antagonismo
Entre sonho e realidade,
O otimismo suicida
Da compatibilidade!

Minar a antinomia
De nossas filosofias!
A pretensa liberdade da sua dança.
A paz que não nos alcança.

Te mimar, me ninar,
Me mimar, “meninar”.
Te ter sem ninar:
Não me ter, me minar.

Te ter e minar,
Te terminar,
Exterminar,
Ter-me-á ex.

Carolina Sousa Martins

Até que a vida nos separe


Até que a vida nos separe,
Meu futuro ex-amor,
Pra todo o nunca,
Serei só sua.

Até que a vida nos separe,
Esse amor não será vão: será decente.
Éter na mente,
Serei só sua.

Até que a vida nos separe,
Durante todos os Carnavais,
Com o pudor que não há mais,
Ainda assim, serei só sua.

Até que a vida nos separe
Sem dor, sem torpor e sem amor,
Sem verdade, mas sem crueldade,
Serei só sua.

Até que a vida nos separe...
Sem fases, sem “quases”...
Quase
Serei só sua.

Até que a vida nos separe...
Sem pressa e sem promessa.
Promessa?
Serei só? Sua!


Carolina Sousa Martins
(2004)

Desarmamento?

Ela teme que ele não ligue.

Ele teme que ela não atenda.

Ela atende.

Ele escolhe um dia de semana.

Ela teme não ser levada a sério.

Ele teme que ela não possa no sábado.

Ela vai.

Ele teme que ela não goste do cabelo.

Ela teme que ele não goste do decote.

Ele gosta.

Ela teme que ele só queira uma noite.

Ele teme que ela não o queira.

Ela quer.

Ele teme que quem tenha que ligar seja ela.

Ela teme que quem tenha que ligar seja ele.

Ele não liga.

Ela também não.

Difícil falar em desarmamento...

Carolina Sousa Martins

Dês ilusão


Hoje eu sei que foi tudo ilusão.

Mesmo assim, eu sinto saudades...

Sinto saudades daquela ilusão que eu achava não ser ilusão.

Sinto saudades da sensação inocente que hoje eu já não me permito sentir.

Sinto saudades do sentir-me amado, ainda que hoje, ao olhar para o ontem, eu duvide disso.

Sinto saudades do gosto do sonho, agora que acordei.

Sinto saudades das inverdades que ouvia, em tom de sinceridade.

Sinto saudades do riso frouxo, da entrega integral.

Sinto saudades da fé que eu vivia.

Sinto saudades de tudo o que não foi, de tudo o que não vivi, mas que me pareceu real em um dado momento.

A desilusão dói sim, mas a ilusão, não. A ilusão, enquanto ilusão, não dói.

Por isso hoje eu entendo...

Entendo por que há tanto "pai que é cego".

Entendo por que "o marido traído é sempre o último a saber".

Entendo por que os primogênitos enxergam seus irmãos caçulas com tamanha inocência.

Entendo, enfim, que "o que os olhos não vêem o coração não sente".

Entendo que algumas pessoas escolhem a alienação, pois esta os faz felizes.

E por isso hoje eu peço que não me digam a verdade.

Deixem-me morrer com o que ainda me resta de ilusão.

Carolina Sousa Martins

Obrigada, “Marida”!

Obrigada por ser minha amiga
e ter o coração aberto para todos os meus amigos.

Obrigada por ler meus pensamentos e
me ajudar a organizá-los.

Obrigada por traduzir
meus próprios desejos.

Obrigada por invadir a cozinha comigo
e tomar sorvete com calda de chocolate
pra eu perceber que é preciso respirar e seguir em frente.

Obrigada por não desprezar minha TPM
e por tentar me dizer,
da maneira mais suave possível:
“será que não é TPM?”.

Obrigada por ser minha cúmplice,
me defender sem que eu peça e
não deixar ninguém passar,
quando estou com ele.

Obrigada por ensaiar comigo
qual a melhor maneira de falar com meu chefe.

Obrigada por perceber quando gosto de alguém
e por atrapalhar minha rival,
entretendo-a com uma conversa infindável.

Obrigada por acreditar em mim
e me dizer que “eu sou o que há,
sou tudo de bom”
sempre que duvido disso.

Obrigada por ser sábia
e “puxar minha orelha” de forma tão gentil.
Isso me faz saber
que você será a melhor madrinha pros meus filhos.

Obrigada por mentir quando minha mãe te procura,
a minha procura,
de madrugada.

Obrigada por tanto cuidado e por não conseguir
mais dormir,
depois disso.

Obrigada por encher a minha vida de
memoráveis momentos felizes
e por me permitir tanta coisa bonita pra contar.

Obrigada por tornar a cruz mais leve,
o caminhar mais brando,
o caminho mais belo.

Obrigada por ser uma pessoa e tanto e por ter sobrevivido a esses anos de amizade.

“Agradeço a Deus porque lhe fez!”

Carolina Sousa Martins

Teu corpo

(a imagem acima foi retirada do site www.photobucket.com )


Desejo o calor de teus lábios,
o perfume de tua boca,
a doçura de tuas palavras,
o vigor de tua voz rouca.

Desejo a força dos teus braços,
O consolo de teus ombros,
A imensidão de teus amassos,
A proteção dos teus abraços.

Desejo a firmeza de teus pés,
A direção dos teus passos,
A condução da tua dança,
O cheiro do teu rastro.

Desejo a certeza dos teus pensamentos,
A calma de tua distração,
O devaneio da tua imaginação
A pureza dos teus julgamentos.

Desejo ter o brilho que teus olhos têm
E a honra de fazê-los reféns.
Desejo ser o objeto de teus cuidados,
Desejo o sono de teus olhos fechados.

Desejo a busca de tuas pernas
Debaixo do meu lençol
E o aconchego do teu colo
Antes do nascer do sol.

Carolina Sousa Martins

Fatal


Dessa vez, não.
Dessa vez eu me precavi.
Dessa vez, não.
Dessa vez eu não me iludi.
Dessa vez, não.
Dessa vez eu fiz tudo o que a mim mesmo prometi.

Prometi não acreditar,
Prometi não me envolver,
Prometi não gostar,
Pra evitar o meu sofrer.

Mas meu coração teimoso driblou minha mente,
Meus olhos traidores se renderam enfeitiçados
Minha boca rebelde se entregou em devaneio.
Devaneio precoce de um sorriso fatal.

Carolina Sousa Martins

Amor pós-moderno



Sou de uma geração singular,
talvez a última que conheça o amor
e o instante derradeiro antes do ápice
quando se ama de verdade.
Ai, geração singular...
Camisolas congeladas
Flores pedindo concordata
Fragmentos de carinho em átomos de tempo
Delírio breve, martírio eterno
E não se sabe aonde foi parar o terno.
Ai, geração singular...
Quão difícil é explicar?
Deixa o amor durar mais que um “ficar”!
Aprende uma alquimia imemorável,
uma sede que excede
Apreende a dialética de ser um,
a matemática da divisão que é soma
Abre mão de uma migalha
Saiba ser sábia geração-sabiá
E se doe a algo que valha
Não se doa, espere
Não se desespere
Ai, geração singular...
De tanto valorizar o ímpar
E desprezar o par
Há de acabar
Singular.

Carolina Sousa Martins

EM-ti-AR-de-SER


Achei que nunca ia querer me casar. Hoje, passou. Sinto gosto de alívio. Gosto de alívio com cheiro de cânfora. De pós-depilação. Já sei, ele não entendeu. Ele é homem (talvez por isso não sangre tanto). Hoje eu creio num amor inoxidável! Melhorou? Não, acho q ele também não entendeu.

Achei que quanto mais longo o namoro, maiores a chance de um casamento durar. Hoje penso o contrário. Namoro longo, casamento curto. Ou não.

Achei que eu precisava escolher uma profissão útil. Hoje isso tem nome: utilitarismo. Hoje essa não é a única opção. E hoje as melhores coisas da vida são inúteis.

Achei até que tinha que fazer Direito. Hoje sei que o importante é fazer direito.

Achei também que alguns homens eram tímidos. Hoje? Desinteressados!

Achei que as quedas tinham me machucado. Hoje sei que me fizeram parar antes da tempestade.

Hoje a vida talvez doa menos. Mas arde tanto quanto!

Arde quando me sinto prostituta na vitrine de Amsterdã à procura de um emprego que me pague melhor.

Arde quando me sinto criança perdida da mãe, com obrigação de general de um exército.

Mas arde também quando o coração descarrilha e vê que tropeçar nas mesmas pedras me traria aqui de novo.

Arde quando enxergo como é bom ser AMADORA e quero continuar AMANDO.

E arde quando percebo que se estivesse SENTINDO tudo isso SEM “TI”, estaria apenas SENDO.

Arde mais, ar de menos, arde depois. Mas isso é entre nós dois.

Carolina Sousa Martins

Manchetes


Cacau. Matéria-prima do meu vício. Guerra se viu na Costa do Marfim. Festa no sul da Bahia? Guerra civil no Rio, isso sim. Exporta os traficantes cariocas, ué! Acho que não vão querer comprar... Então manda plantarem cacau (ou manda “plantarem batata”!). Quem manda? O (des?)governo. O P.T. O que significa mesmo P.T? Não lembro. P.T, pra mim, é “perda total”. Costuma ocorrer naquelas noites que começam maaaravilhosas, e, depois de muito álcool adentro e “foda-se” afora, terminam com uma dor-de-cabeça METAfísica: uma dor-de-cabeça moral. Principalmente se você for mulher. E brasileira.

O Jabor fala das brasileiras. E da “vulgarização do feminismo”. E humildemente se pergunta se sua revolta não seria fruto de inveja, por pertencer a outra geração. Inveja da minha geração? Duvido. A “geração anos rebeldes” invejaria a “geração rebelde-sem-causa” (ou “geração-sem-rebeldes”)? Não creio. Aliás, não cremos. Não cremos em ovelha negra. Nem em vaquinha de presépio. Talvez em ovelha branca. Da Nova Zelândia. Sabia que lá tem mais ovelha do que gente? Ou costumava ter... E aqui, hein?! Aqui deve ter mais advogado do que gente. Não que advogado não seja gente... Não é isso... Calma... Eu consigo ser as duas coisas! :) Mas, nem com tanta gente “direita”, tem “panelaço” no Congresso. Natural. Isso é coisa de dona-de-casa... Dona de causa? Casa! Casa própria. Ah, entendi... Causa própria.

Inveja... Inveja tenho eu. De quem está no controle. Muda o canal, por favor? “Dos anos 70 aos 90, o desempenho escolar feminino era muito melhor do que o masculino.” Começou bem. Só que qualquer um que já freqüentou escola sabe disso, PENSO EU. “Mas nos últimos resultados do ENEM” - prossegue o repórter – “os meninos se saíram melhor”. Lá vem a piadinha... Do DONO do controle remoto: “são os neurônios a mais!”, DIZ ELE. “E as pesquisas apontam para uma causa: as meninas estão deixando de estudar pra tentar a carreira de modelo.” Ai, ai, ai... ‘Tá ouvindo, Jabor?

Carolina Sousa Martins

Também “num” quero mais...



Encontrou seu namorado. Achava estranho chamá-lo assim, mas já que era o único que quisera um compromisso sério com ela em dois anos... resolveu aceitar. Ele apareceu na festa com uma pasta amarela. Mas ela nem percebeu. Seus amigos chegaram. O namorado não se entrosava. Ela ficava irritada. Era seu aniversário.

Para seu desespero, o amigo “do outro” se aproxima. É. O amigo daquele por quem o coração quer sair pela boca como gorila preso na jaula. O amigo daquele homem-cometa, que passa, não fica, mas cuja visita vale a pena. Toca o celular do amigo. É ele quem liga. O homem-cometa. A primeira e última pessoa que ela queria agora. O amigo, “muy amigo”, nem atende. Passa o telefone pra ela. E ele aparece atrás dela, enquanto ela ainda acha que lhe fala ao telefone. “Vocês fazem um belo casal”. Ele ironiza. Ela disfarça. Ele vai embora com o amigo, enquanto ela escreve, num olhar de desespero, pra amiga (tinha que haver uma amiga!), que quer ser tirada dali de qualquer jeito. A amiga lê. E providencia: “vamos ao banheiro?” “Vaaaaaa-moooooooo!!!”

Era o que ela precisava. Antes de discar, “hesita entre o bom senso e o bom sexo”. E daí, entre o sim e o não, opta pelo “foda-se”. Liga. Ele atende. Acaba o cartão. Ele liga de volta. “Cadê você?” “No mesmo lugar.” “Vem pro lado esquerdo do palco.”

“Não quero brincar de gente grande mais não...Devolve minha pazinha???”


Carolina Sousa Martins

Sábado à noite em casa


Sábado à noite em casa. Esse texto já começou mal. Eu tinha que escrever um “paper”, mas mesmo que quisesse ir pra “night”, hoje eu não teria conseguido. Uma ‘tá com dor de dente, a outra com dor de barriga, a outra ‘tá brigando com o namorado... E esse celular que não toca! Nenhuma mensagen-zinha, nem que seja por engano, nenhuma ligação-zinha não atendida...

“Fazer o quê, cidadão?” Cara a cara com o computador, decido... ir cozinhar! Já que nada está dando certo, vou tentar fazer uma sobremesa pro churrasco de amanhã. Só que ir pra cozinha porque nada está dando certo é um erro me-do-nho! Com certeza nada do que você tentar fazer vai dar certo. Constatei isso. O bolo murchou. E o doce... virou pedra! Pra finalizar, meu irmão chega em casa e vê a proeza da madrugada: “eu sabia que vocês comiam doce quando ‘tavam carentes, mas isso que você ‘tá fazendo é suicídio!” Só que quando a gente se dá mal com certa freqüência, querido, tem que ser mais criativa... Do contrário, quando ficar obesa de tanto remediar a carência com doce, carente vai ser meu estado permanente! Então partimos pra tratamentos alternativos: chocolate “diet”, ligar pra algum “pretê” desinteressante (só pra ouvir o quanto somos maravilhosas...) ou FAZER alguma coisa! (fiquei com essa opção: fazer!)

Pra variar, levei um drible (ou um “s”!?). Estresse... (que, de acordo com uma amiga, é o “coringa” da Medicina: o diagnóstico de todo médico que não sabe o que dizer). E daí? Não se diz que “solidão é não ter nada pra ler”? Se eu resolvesse começar a ler tudo o que tenho que ler, não ia ficar só durante meeeses! Mas solidão deve ser não ter nada de que SE ESTÁ A FIM de ler. Ou apenas nada do que se está a fim. Ninguém de quem estar a fim. Ninguém afim. Afim? A fim? A fim de quê? De nada. Ninguém ‘tá a fim de nada. Nem nós. Nem eles.

“A gente se vê.” Tem frase pior do que essa depois de uma noite ma-ra-vi-lho-sa? Ele faz tudo certo, vai te deixar no carro... e: “a gente se vê”. Romance-a-jato. O cérebro já faz a tradução simultânea: “nem eu te ligo, nem você me telefona”. Pior que isso, só: “se cuida!” Pode saber: ele não te liga nuuunca mais! Eu preferiria ouvir: “Obrigado pela preferência. Volte sempre”. Eu voltava.

Desisto da carreira de cozinheira e vou lavar as mãos pra ir dormir. Minha ironia mal-humorada me lembra Pôncio Pilatos. Ou Ivan Lins ... “só não lavei as mãos e é por isso que me siiin-to cada vez mais liiim-po...” E eu de mãos lavadas e tão “cheia de mim” que me sentia vazia. Tentando preencher o vazio, não enchendo meu estômago, dessa vez, mas o dos outros... Meu estômago já ‘tá cheio. Dos sapos, que eu engulo. Aliás, vai acabar indo pro brejo, de tanto eu engolir sapo! E deve ser por isso que minha barriga ‘tá tão grande... Coach!

Carolina Sousa Martins

De volta pra mim

Eu a quero de volta pra mim.
Vou pedi-la de volta pra mim.
Quero de volta sua cumplicidade,
Sua honesta liberdade,
Sua autenticidade.
Quero a vontade de namorar até tarde
E o cansaço culpado no dia seguinte.
Quero sonhar em casar-me com ela,
Quero querer morar em seu ser.
Quero outra vez de seus beijos beber.
Quero o calor de seu colo...
Eu a quero a tiracolo!
E quando eu deixá-la em casa,
Sozinha, dormindo,
Quero sentir a dor da saudade que se afigura
E a comoção de adorar seu semblante sereno.
Sinto falta de sua timidez!
De sua ousada timidez...
Destemperada sensatez...
Falta...
Falta ela!
Devolvam-me sua tristeza fugaz,
sua verdade contumaz,
E eu estarei de novo em paz.
Quero seus braços de volta pra mim.
Quero seus braços em volta de mim.
Vou pedir a seu pai
Que a traga de volta pra mim.
Vou pedir a meu Pai
Que a traga de volta pra mim.

Carolina Sousa Martins

A segunda era ela



Era noite, mas ela não estava parda
Estava pálida
Lívida
Mas não frígida
Vívida
Como sempre atrevida
Ela preferia que fosse sábado
Mas para ela era, embora fosse segunda
A segunda era ela.

Mas não quis parecer parda
E se arrumou para ele:
O sábado de sua criação.
Ela preferia não mentir
Mas deu uma desculpa
E deixou o trabalho (pois) sem culpa.
Ah, se sua mãe soubesse!
Ora, esquece:
A segunda, já era.

Sem se sentir gata, mas sem querer ser parda
Seu sentimento eclodia
E pelas paredes subia e se ouvia
Um toque de um telefone voraz
Pra lhe minar sem fazer mina
Pra desarvorar a menina
Ele não vem mais.
Ela precisou dele.
A segunda, ela era.

Carolina Sousa Martins

E segue-se a vida...


E segue-se a vida...
Nos ares cansados,
Nos fados pesados,
Nos sorrisos negados,
E olhos aprisionados.
Mas vive-se a vida...

E segue-se a vida...
Na brevidade do momento,
No morno descontentamento,
No afrouxar do alento
Nas rédeas do vento.
Mas vive-se a vida...

E segue-se a vida...
Na pressa dos passos,
No desatar dos laços,
Na derrocada dos braços,
Nos minutos escassos
E em todos os teus traços...
Mas vive-se a vida...


Carolina Sousa Martins

“Esperânsia”

Espero você, por pouco mais que um instante,
Pro aconchego do amanhã que ‘inda dorme,
Pr’ uma noite inocente acordada.
Espero você pra desfazer meus conceitos,
Pra perceber meus defeitos e me ensinar a aprender.
Espero você pra desembaraçar minhas dúvidas e embaraçar meus cabelos.
Pra compor-me uma canção, em assovio,
Pra recompor meu sorriso e descompor meu siso.
Espero você para amassar a farda e desamassar os fardos.
Espero você pra perceber que estou pronto
Pra merecer e receber o que quiser me oferecer.
Espero em você algo de novo pra me encantar
E algo de antigo pra eu poder confiar.
Quero algo de belo pra me ensinar
E algo de feio pra eu embelezar.
Algo de bom pra me fazer sorrir
E de ruim pra me fazer crescer.
Algo de terno sem a obrigação do eterno.
Sabedoria leve que não se desfaça em cobrança.
Traga algo de bobo pra que eu me sinta criança.
Espero de você a entrega que oferecerei
E a alegria que daí sentirei.
Espero beijos de um pródigo
E brigas de um avaro.
Espero que baste me ver para a mágoa derreter
E que mesmo querendo bater venha a me acolher.
Espero a paz dos que sabem perdoar
E a humildade dos que não temem chorar.
Espero a “pena” de ser quem você quis.
Espero apenas lhe fazer feliz.

Carolina Sousa Martins

Testamento


O testamento do meu amor

Longe de ti, a dor.
Cada minuto que o tempo invade denota saudade.
Durante o dia, quando o mundo nos separa,
O tempo é lento, de desalento.
E quando a noite, à lua, a tristeza em meu peito dispara,
Me sinto pouco em meio ao sufoco
Que me leva a te procurar.
Sei bem onde deves estar,
A expulsar-me, sem calma, do sótão de tua alma.
Busco-te, temendo o confronto.
Mas, tremendo de medo do encontro,
Eu saio a forjar o acaso,
Em meio ao ocaso do amar,
Ou em vão me desperdiço, no sacrifício de te ligar,
Na desesperança do desesperar.
Já extinta, a mudez eloqüente
De nossas bocas faz parapeito de falas incoerentes,
A se atirarem, a nos mirarem e a nos acertarem.
Procuro-te então na frigidez da geladeira, cada vez mais fria, carente do teu calor.
Procuro-te nos doces que como no ardor de pôr fim ao amargor.
Procuro-te na caixa postal, que está vazia, e, a cada minuto, no computador.
Procuro-te na secretária e elaboro uma resposta à tua mensagem imaginária.
Procuro-te nas orações à espera de um Deus que reduza a dor do adeus.
Procuro ter de volta a plenitude que dormiu e fugiu contigo.
Procuro-te no cheiro das roupas e ali ainda estás presente.
Presente, pois, nos vestígios de um tempo pretérito,
No vazio do aperto de um ser violentado e demérito,
Nas voláteis lembranças que recordam esse volátil amor
Portátil amor, inútil amor, vil amor.
Vi o amor
Se suicidar
E me esmagar.
Meu sentimento, em testamento, só me lega sofrimento.
Meu coração engessado tenta recuperar-se de um findo passado sem fim.
Realidade pros meus planos, verdade pros meus enganos.
Despertar dos sonhos, que de sorridentes se fazem tristonhos.
Rompimento das promessas, desilusão às pressas.
Alianças desmanchadas, vidas separadas.
Hoje chorei pelo ontem, que sonhava um amanhã magistral.
Hoje a imensidão de ilusão se fez auto-comiseração.
Da miscelânea do encontro, mais um desencontro,
Que roubou parte do meu eu.
E na fissão de corpos que se fundiam e se confundiam,
Vai-se um pedaço de mim, pedaço que nunca foi meu.
Morte ao futuro que não mais junto se imagina.
Amor condenado à guilhotina.
Amante condenado à liberdade.
Liberdade doída e preterida
Por refém voluntário.
Otário...
Carolina Sousa Martins

Digitais


O diálogo foi o seguinte:

Tire essas mãos de cima de mim. Não sou digitável! Nem palatável. Mas sou lível e traduzível. É só me (“ex”)colher com critério e, de mansinho, me tirar da estante. Sua mãe não ensinou, não? (a culpa é sempre da mãe...) Primeiro você pega a minha mão. Depois (bem depois!), você vem com a sua “all over me”! Porra... Sem a porra do romance, ”porra nenhuma” me dá prazer...

A resposta foi:

Hã?

Aí eu quis dizer mais do que “porra”. Quis dizer palavras impronunciáveis. E, muito mais, “indigitáveis”. Será que não fui clara? Tão clara quanto a água. Do Tietê. Tão clara quanto a lama em que fui me meter. Devia ter falado mais alto. Mas ele estava sem óculos.

Não quero os dígitos da identidade. Dela, quero seu nome. E sobrenome. Quero conhecer aqueles outros nomes. Saber de onde você veio.

Não quero a Era Digital. Nem o mundo digitalizado. Nem a máquina digital. Não quero digitar esse texto. Quero escrever “à pena” e apenas. Duras penas de um macio travesseiro. Quero o livro indigitado. Quero o celular analógico. Não, não quero celular. Não quero precisar. Quero ser imprecisa. Como uma impressão. Digital. E haja confusão mental... Não quero fingir que não sei. Quero apenas não saber. Não quero mais conselhos. Não quero terapia. Não quero ouvir vocês.
Só quero as digitais.

Perdido de mim

(a figura acima foi retirada do site http://atuleirus.weblog.com.pt )

Meus olhos queimam em lágrimas que apagam a lente da beleza que os circundava.
Minha cabeça pesa em devaneios que invadem meu sono e aniquilam meus sonhos.
Minh’alma chora a dor de uma perda prematura, da cor de um repúdio de irmão.
As músicas que inspiravam paixão hoje sugerem separação.
Meus braços buscam, no escuro, a força de outrora; no abismo, o fim da descida.
Labirinto inextricável, álibi do meu desespero, meus olhos vêem o escuro, minhas mãos tocam o vazio, que meus pés não cansam de procurar...
Sentimento de perdido, pensamento atordoado, impotente por não ser, importante por não ter
O carinho que amortece a queda, a mão que ajuda a levantar, o colo que acalma o pranto...
São hoje alguém que me olha, me sorri e vai embora
Alguém que não tem tempo de me ouvir agora...

Carolina Sousa Martins

Vou-me embora pra Pasargadinha

(a imagem acima foi retirada do site www.photobucket.com )

Vou-me embora pra Pasargadinha,
Lá sou amiga da rainha.
Se é ela quem manda no rei,
Lá, tudo o que quero, terei.

Vou-me embora pra Pasargadinha,
Lá sou amiga da rainha.
Se ela preside o Supremo,
Lá eu mando e nada temo.

Vou-me embora pra Pasargadinha,
Lá sou amiga da rainha:
Lá não sou sem eira nem beira,
E, quiçá, sou “Manuela Bandeira”.

Vou-me embora pra Pasargadinha,
Lá sou amiga da rainha,
Lá sou dona da passarinha
E só lá posso ser tua sem deixar de ser minha.

Carolina Sousa Martins


(2006)

Divina Tirania


Amor, pobre amor o meu,
Que roga
Esse amor seu,
Que rouba
Meu próprio eu.

Amor, tirano amor o seu.
Amor tirando amor meu!

Amor, herege amor o meu,
Que persegue
Esse amor seu
Que apunhala
Meu eu.

Amor atirando amor, o meu.
Amor, a ti ando, amor meu!

Amor, louco amor meu,
Vai, seqüestra
Esse amor seu
E encontra
Meu próprio eu.

Amor ateando amor no seu.
Amor atando o amor meu ao seu.
Amor, há tanto amor meu...

Amor, tirano amor
tirando amor
atirando amor
a ti ando, amor
ateando amor
atando amor
tanto amor...


Carolina Sousa Martins

Não reconheço meu futuro


E depois ainda serei "a louca".

O despertador, por exemplo. Desperta a dor! Pra que se cria algo assim? Objeto de tortura? E esse nome "auto-descritivo-destruitível"? Que nem deputado, reputação, computado... Tudo com "puta" no meio.

E depois ainda serei "a louca".

Ih! Não era o despertador. Era o ex-futuro ligando. Separou de novo. Separa, volta, separa, revolta. "Cê" para???

E depois ainda serei "a louca".

Eu já reparei e parei. E, depois que parei, consegui disparar.

E depois ainda serei "a louca".

Eu já falei: não SEREIAMANTE! Quero um "sereio"! Mas, de amante, não. Diamante, só lapidado, no dedo, ou negro, na boca.

E depois ainda serei "a louca".

Dedo, boca... Lá vem ele outra vez...

E depois ainda serei "a louca".

Só que hoje eu 'tô escrachada. Deixo o crachá em casa pra não ser identificada. É que todo Carnaval tem seu fim. Pode rasgar a fantasia. A sua quarta-feira já virou cinzas.

E depois ainda serei "a louca".

Nada é mais fisicamente conectado. Largo o telefone sem fio e volto pra cama. Sem a covardia da tecnologia. Contudo, vou sem nada. Aí, sim, confio. Com fio, a vida comtinua. Mesmo que por um fio.

E depois ainda serei "a louca".

"CoNtinua", Carol. Não. Comtinua. É pecado escrever letras em vão. Com ti, contíguo, com ti nuar (gostei desse verbo). No ar. Comtinuamente. Sem mentir.

E depois ainda serei "a louca".

Deixa estar. Deixa a louCURA e a fresCURA fazerem sentido. Sem re-sentimentos. Na vida, incontida. Hoje me levanto e dispenso o café. Traz a máquina de fazer cafuné. E me liga na tomada, por favor. Nisso eu com fio. Fisicamente conectada. Contudo, vôo sem nada.

E depois ainda sereia louca.

Carolina Sousa Martins