sexta-feira, 11 de julho de 2008

Testamento


O testamento do meu amor

Longe de ti, a dor.
Cada minuto que o tempo invade denota saudade.
Durante o dia, quando o mundo nos separa,
O tempo é lento, de desalento.
E quando a noite, à lua, a tristeza em meu peito dispara,
Me sinto pouco em meio ao sufoco
Que me leva a te procurar.
Sei bem onde deves estar,
A expulsar-me, sem calma, do sótão de tua alma.
Busco-te, temendo o confronto.
Mas, tremendo de medo do encontro,
Eu saio a forjar o acaso,
Em meio ao ocaso do amar,
Ou em vão me desperdiço, no sacrifício de te ligar,
Na desesperança do desesperar.
Já extinta, a mudez eloqüente
De nossas bocas faz parapeito de falas incoerentes,
A se atirarem, a nos mirarem e a nos acertarem.
Procuro-te então na frigidez da geladeira, cada vez mais fria, carente do teu calor.
Procuro-te nos doces que como no ardor de pôr fim ao amargor.
Procuro-te na caixa postal, que está vazia, e, a cada minuto, no computador.
Procuro-te na secretária e elaboro uma resposta à tua mensagem imaginária.
Procuro-te nas orações à espera de um Deus que reduza a dor do adeus.
Procuro ter de volta a plenitude que dormiu e fugiu contigo.
Procuro-te no cheiro das roupas e ali ainda estás presente.
Presente, pois, nos vestígios de um tempo pretérito,
No vazio do aperto de um ser violentado e demérito,
Nas voláteis lembranças que recordam esse volátil amor
Portátil amor, inútil amor, vil amor.
Vi o amor
Se suicidar
E me esmagar.
Meu sentimento, em testamento, só me lega sofrimento.
Meu coração engessado tenta recuperar-se de um findo passado sem fim.
Realidade pros meus planos, verdade pros meus enganos.
Despertar dos sonhos, que de sorridentes se fazem tristonhos.
Rompimento das promessas, desilusão às pressas.
Alianças desmanchadas, vidas separadas.
Hoje chorei pelo ontem, que sonhava um amanhã magistral.
Hoje a imensidão de ilusão se fez auto-comiseração.
Da miscelânea do encontro, mais um desencontro,
Que roubou parte do meu eu.
E na fissão de corpos que se fundiam e se confundiam,
Vai-se um pedaço de mim, pedaço que nunca foi meu.
Morte ao futuro que não mais junto se imagina.
Amor condenado à guilhotina.
Amante condenado à liberdade.
Liberdade doída e preterida
Por refém voluntário.
Otário...
Carolina Sousa Martins

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