sexta-feira, 11 de julho de 2008

Digitais


O diálogo foi o seguinte:

Tire essas mãos de cima de mim. Não sou digitável! Nem palatável. Mas sou lível e traduzível. É só me (“ex”)colher com critério e, de mansinho, me tirar da estante. Sua mãe não ensinou, não? (a culpa é sempre da mãe...) Primeiro você pega a minha mão. Depois (bem depois!), você vem com a sua “all over me”! Porra... Sem a porra do romance, ”porra nenhuma” me dá prazer...

A resposta foi:

Hã?

Aí eu quis dizer mais do que “porra”. Quis dizer palavras impronunciáveis. E, muito mais, “indigitáveis”. Será que não fui clara? Tão clara quanto a água. Do Tietê. Tão clara quanto a lama em que fui me meter. Devia ter falado mais alto. Mas ele estava sem óculos.

Não quero os dígitos da identidade. Dela, quero seu nome. E sobrenome. Quero conhecer aqueles outros nomes. Saber de onde você veio.

Não quero a Era Digital. Nem o mundo digitalizado. Nem a máquina digital. Não quero digitar esse texto. Quero escrever “à pena” e apenas. Duras penas de um macio travesseiro. Quero o livro indigitado. Quero o celular analógico. Não, não quero celular. Não quero precisar. Quero ser imprecisa. Como uma impressão. Digital. E haja confusão mental... Não quero fingir que não sei. Quero apenas não saber. Não quero mais conselhos. Não quero terapia. Não quero ouvir vocês.
Só quero as digitais.

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